A noite de 6 de outubro de 1932 ficou marca na vida do jovem Goffredo da Silva Telles Jr., que na época tinha apenas 17 anos de vida. Levado por sua avó, Olivia Penteado, o menino Goffredo foi à Faculdade porque neste dia, patrocinada pela grande dama paulistana, instalava-se a Academia de Letras da Faculdade de Direito.

Esse evento ocupa lugar de destaque em minha vida. Levado pela minha avó, a ele estive presente. Era a primeira vez que eu ingressava nas Arcadas do Largo de São Francisco.

No fim deste mesmo ano, o Professor vai de novo às Arcadas, e dela nunca mais se desliga. Em 1933, já o encontramos no seu primeiro ano de Direito. No período em que estuda, a Faculdade passa por uma grande reforma. De fato, o Mosteiro de São Francisco e a Faculdade funcionavam juntos. Até o sino da Igreja servia de sinal para o começo e o fim das aulas e a entrada para a Faculdade era pela Sacristia. Na década de 30 do século passado, a Faculdade passou pela maior reforma de sua história. Quando o mestre começou seu curso, o prédio já tinha sido parcialmente demolido, preservando-se a estrutura de arcos, as famosas Arcadas.

Lembro-me de um fato especial, acontecido certa manhã, quando os operários cometiam a demolição das paredes de barro, das salas do primeiro ano. Com assombro enorme, vimos surgir, dentre os entulhos, ossadas inteiras de seres humanos. Lúgubre aparição! As obras imediatamente se interromperam. Mas à tarde, tudo já estava esclarecido. Aquelas taipas, que haviam sido as paredes de minhas primeiras salas de aula na São Francisco, tinham servido de santo jazigo para os monges do convento. Assim iniciei meu curso de Direito dentro de um cemitério!

Em 1934, a reforma chegou ao fim. Os dois andares antigos deram lugar a quatro lances de construção. E em fins de 1937, na 190ª turma, colou grau o aluno Goffredo da Silva Telles Junior.

Na Faculdade, aprendi a amar o Direito. Passei a amar o Direito, como quem ama a liberdade e a justiça.

No princípio de 1940, o diretor da Faculdade convidou-o para ensinar Lógica, no Curso Pré-Jurídico do Colégio Universitário. Em 30 de setembro deste mesmo ano, requereu sua inscrição no concurso de livre-docente de Introdução à Ciência do Direito. O concurso realizou-se em março de 1941. Aprovado, em 3 de abril deu-se sua nomeação. Em 5 de junho de 1954 tiveram início suas provas do Concurso de Catedrático, no qual foi aprovado com distinção, com nota superior a nove. A posse da Cadeira de Introdução à Ciência do Direito aconteceu em 11 de agosto de 1954, no 127º aniversário da Academia de Direito de São Paulo.

Fato inesquecível é ter eu tomado posse em plena Semana da Tradição, ou Semana das Arcadas, promovida pelo Centro Acadêmico Onze de Agosto.

Lecionou por quase 50 anos. Em 1985, por força de lei, foi aposentado compulsoriamente, ao atingir 70 anos de idade. Continuou, porém, em seu próprio escritório, a dissertar sobre o Direito, ou melhor, sobre a "Disciplina da Convivência Humana", a grupos numerosos de estudantes que o visitavam frequentemente.

Com efeito, depois de sua aposentadoria continuou estreitamente ligado à Faculdade, ao Centro Acadêmico XI de Agosto e aos estudantes da Academia.

Principal em minha vira era lecionar, era escrever. Era expor minhas ideias sobre a ordem jurídica, sobre a ordem política em nossa terra. Era difundir o modelo de um Direito nascido do respeito ao próximo, do amor ao semelhante. Eu tinha uma sagrada missão a cumprir. Dela, eu não podia me arredar. No fundo de mim, no segredo de mim mesmo, eu nutria a esperança de formar juristas, formar estadistas para o Brasil. Era minha aspiração, meu ideal secreto.