sobre Goffredo Telles Junior

Ministro Toffoli exalta a memória do Professor Goffredo para a democracia

Em discurso na Câmara dos Deputados, pela primeira vez como ministro do Supremo, o ministro Toffoli, eterno aluno do Mestre Goffredo, narrou passagens únicas do homenageado.

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"Sr. Presidente, nobre Deputado Dimas Ramalho, filho da São Francisco, a grande Academia de Direito de São Paulo, na qual o Prof. Goffredo formou-se e lecionou não só durante os 45 anos que foram mencionados, mas muito mais; sou contemporâneo da aposentadoria dele e sei que mesmo após sua aposentadoria continuou frequentando a faculdade, à época do processo de elaboração da nossa atual Constituição.

O Prof. Goffredo criou o Círculo das Quartas-Feiras, quando reunia, sempre à tarde, no saguão dos calouros, onde ficam as salas dos calouros – uma delas a Barão Ramalho –, os alunos. Ele gostava de ser reconhecido não como professor, mas como eterno estudante. Isso já é uma grande lição para todos nós do meio jurídico, seja para a vida, seja no meio jurídico, pois temos sempre que estar atualizando-nos, estudando e formando-nos.

Cumprimento e parabenizo V.Exa., Sr. Presidente Dimas Ramalho, pela iniciativa de propor esta homenagem ao Prof. Goffredo, bem como a Câmara dos Deputados, o Congresso Nacional, que o aprovou, e o Deputado Michel Temer, que abriu esta sessão, também filho da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Esta homenagem é não só ao Prof. Goffredo, mas ao Direito, à democracia, ao Estado Democrático de Direito, à luta pela Constituinte de 1987/1988, que redundou na Constituição Cidadã, proclamada dessa cadeira na qual se senta V.Exa. neste momento pelo grande Ulysses Guimarães, que dá nome a este Plenário. O Prof. Goffredo faz parte dessa história, que tem como ponto marcante, sem dúvida nenhuma, como já foi referido por V.Exa., a leitura da Carta aos Brasileiros, em agosto de 1977, no pátio da faculdade, com todo o Largo de São Francisco inundado de pessoas.

Cumprimento V.Exa. e todos os Parlamentares presentes, como o Deputado Arlindo Chinaglia, cujo filho, o Dr. Olavo Chinaglia, é formado no Largo de São Francisco e portanto também é cria, uma geração mais nova, não contemporânea, do Prof. Goffredo, e membro do Círculo das Quartas-Feiras, com certeza.

Cumprimento o querido Dr. Bettiol, que aqui representa a família de Goffredo, e na pessoa dele cumprimento a Sra. Eugenia, a viúva, e Olívia, a filha de Goffredo, também minha contemporânea na época da faculdade nos bancos do Largo do São Francisco, 2 anos mais nova do que eu.

Cumprimento também o querido Vadim, nosso Presidente do Capítulo Brasília da Associação dos Antigos Alunos, e todos os presentes.

Eu queria dizer exatamente que a convivência com o Prof. Goffredo foi a mais agradável e a mais emocionante possível. Por quê? Porque o Prof. Goffredo – não foi à toa que o Dr. Vadim se emocionou quando falou do Prof. Goffredo, com quem teve a oportunidade de conviver na mocidade; conheceu o Prof. Goffredo ainda novo, e eu vim a conhecê-lo no final da sua carreira como professor – era uma pessoa encantadora, antes de tudo uma pessoa maravilhosa, que acreditava nas gerações, nas gerações que ia formando, nos seus alunos e nos seus estudantes.

Assim como o Dr. Vadim contou algumas passagens, vamos dizer assim, mais singelas, também gostaria de registrar a Peruada de 1989. Quem é do Largo de São Francisco sabe muito bem o que é a Peruada. Lembro a Peruada de 1989, que tenho registrada em vídeo e guardo até hoje comigo. A Peruada tradicionalmente parava em frente ao prédio onde residia o Prof. Goffredo, onde ainda hoje moram Eugenia e Olívia, sua viúva e sua filha. Lá, todos os estudantes paravam e gritavam para o Prof. Goffredo descer, e em toda Peruada o Prof. Goffredo descia. Só que nessa de 1989 ele foi um pouco mais ousado: além de descer, ele subiu no trio elétrico e fez um discurso empolgado sobre a enfim chegada redemocratização do Brasil.

Estávamos a 2 ou 3 semanas do primeiro turno das eleições de 1989, as primeiras eleições diretas para Presidente desde o Golpe de 1964. O Prof. Goffredo não se conteve e fez questão de subir – tenho registrado – num elevador.

Com todo o mundo preocupado, pois o Prof. Goffredo poderia cair daquele elevador, do alto de um trio elétrico muito alto, ele começou a contar toda a trajetória da construção democrática e a emoção do momento que se vivia, a emoção de ele estar vivo naquele momento – graças a Deus, ainda viveu muito mais conosco – e poder ver as eleições diretas para Presidente da República.

Tive a oportunidade, Presidente Dimas Ramalho, de estar presente, infelizmente, nessa circunstância triste do seu velório, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e no seu sepultamento, no Cemitério da Consolação, onde descansa. Mas na nossa memória, na nossa vida e na vida do País, Goffredo nunca descansará. Ele sempre estará a nos alertar para a democracia, para o Estado Democrático de Direito e para o respeito à lei e à liberdade dos cidadãos."