sobre Goffredo Telles Junior

Toda uma vida luminosa dedicada ao Direito, lembrou Luiz Carlos Bettiol

Representando a família do Professor em homenagem na Câmara dos Deputados, o advogado Luiz Carlos Bettiol lembra a admiração que todos tinham pelo Professor Goffredo.

"Eminente Presidente Dimas Ramalho, eminente Ministro Dias Toffoli, Srs. Deputados, colegas do Largo de São Francisco, depois de 45 anos de magistério e muitos mais de advocacia, de toda uma vida luminosa dedicada ao Direito, à justiça, à democracia, ao civismo, à cordialidade, à amizade, mais do que natural que depois da sua morte os antigos alunos, os advogados, os juristas, os políticos, os amigos, os brasileiros manifestassem seu respeito, sua admiração, sua gratidão a Goffredo da Silva Telles Junior.

Professor emérito, professor símbolo da Faculdade de Direito, ele tem recebido muitas homenagens, mas nenhuma, Sr. Presidente, tão expressiva na sua dimensão nacional.

Foi isso que a Dra. Maria Eugenia e Olívia Silva Telles, mulher e filha, pediram que eu, em nome da família, deixasse registrado, ao agradecer em nome delas a homenagem da Câmara dos Deputados.

Professor, escritor, orador, ensaísta, político, Goffredo da Silva Telles foi Deputado Federal Constituinte em 1946 e Deputado Federal na legislatura que se seguiu. Chegou ao Palácio Tiradentes com 29 anos, consagrado por uma expressiva votação.

Coube ao jovem Parlamentar conjurar a primeira e bem urdida investida externa para internacionalizar a Amazônia. Com 2 notáveis e históricos discursos, Goffredo da Silva Telles conduziu o Congresso Nacional a negar referendo a um acordo já assinado que perigosamente expunha a Amazônia à cobiça e aos interesses internacionais.

Aplicou-se intensamente no exercício do mandato. Sua experiência parlamentar foi muito rica e marcou-o de forma indelével. Partem daí suas preocupações e reflexões, ao longo da vida, sobre o Parlamento, sua representatividade, sua legitimidade e suas funções no Estado contemporâneo.

Em 1959 publica seu ensaio intitulado Iniciativa Popular no Processo de Elaboração das Leis. Em 1963, em seu trabalho Lineamentos de uma Democracia Autêntica, discute fundamentalmente a participação popular no processo legislativo. Mais tarde dirige ao Governo, em 1978, sua Carta aos Brasileiros, ao Presidente da República e ao Congresso Nacional, pugnando por uma Assembleia Constituinte livre, autônoma e soberana, sem amarras com o Congresso Nacional e com o Governo Antes, em 8 de agosto de 1977, no pateo de sua Academia, fizera a leitura da Carta aos Brasileiros, a revelar de novo sua preocupação com o processo legislativo, sua autenticidade e representatividade.

Goffredo afirmou com toda a propriedade:

“O único outorgante de poderes legislativos é o Povo. Somente o Povo tem competência para escolher seus representantes. Somente os representantes do povo são legisladores legítimos.”

Goffredo não se candidatou à eleição de 1950, mas continuou servindo à causa pública, sobretudo formando homens e líderes, a exemplo do Presidente Michel Temer, de V.Exa., Deputado Dimas Ramalho, e de muitos outros notáveis Parlamentares.

Foi ele quem os recebeu em 1959 e em 1974, na mesma sala em que me recebeu em 1955, iniciando todos nós nos caminhos do Direito e despertando vocações.

Se ele pudesse, nesta cerimônia, ser recebido agora por V.Exas., como os recebeu no passado, quando eram jovens, cumpriria o mesmo notável ritual das aulas de Introdução à Ciência do Direito.

Começaria gaguejando, recolhido, como numa oração; seu rosto pouco a pouco iria iluminando-se, e ele diria: 'Meus senhores, a democracia e a República dos meus sonhos está em boas mãos.'"