sobre Goffredo Telles Junior

Dimas Ramalho: Goffredo era múltiplo

"Quando o Prof. Goffredo morreu eu tive o desejo de prestar-lhe uma homenagem neste plenário, que, como lembrou o Prof. Michel Temer, ex-estudante da Faculdade de Direito de São Francisco, simboliza a democracia. Eu propus esta sessão e imediatamente o Presidente Michel Temer acolheu a proposta, e disse que era muito justa a possibilidade de nós lembrarmos aqui a figura do Prof. Goffredo da Silva Telles Júnior.

Sr. Presidente Michel Temer, Srs. Deputados, o Prof. Goffredo era múltiplo: foi professor, Deputado, jurista, poeta, foi muitas coisas, mas sem dúvida alguma ele há de ser lembrado para sempre como professor.

Recém-chegado chegado do interior do Estado de São Paulo, lembro-me da primeira aula em que o Prof. Goffredo começou a me falar sobre ditadura, sobre a situação de Portugal, e aquilo foi muito bonito e importante. Abriu-me a visão crítica que eu tinha a respeito dos valores democráticos do País.

Surpreendentemente, ao final da aula, todos aplaudiram o Prof. Goffredo, como lembrou o Presidente Michel Temer. Foi a primeira vez em minha vida que vi um professor ser aplaudido no final da aula. Ele começava realmente devagar suas aulas, quase gaguejando, como se quisesse que as palavras saíssem devagar. Depois lançava uma enxurrada de conhecimentos, de virtudes, de lições que extrapolavam em muito os códigos de Direito.

Para todos nós que estudamos nas Arcadas, sobretudo aqueles que fizeram Direito e gostam da democracia, o Prof. Goffredo é um símbolo que jamais esqueceremos. E não tenho dúvida, Deputado Michel Temer, que ele gostaria de ser lembrado como professor, pois foi ligado à Faculdade de Direito por no mínimo 45 anos. Gerações e gerações formaram-se naquela faculdade sob sua tutela de professor e sua experiência de jurista.

Há momentos da vida democrática do mundo que marcaram profundamente aquela faculdade. Eu lembro quando houve a Revolução dos Cravos, em Portugal.

Ele entrou na sala e disse: “Hoje não haverá aula. Hoje nós vamos comemorar a revolução da democracia em Portugal”. E discorreu sobre o significado daquilo para nós, então jovens estudantes, e sobre o que viria a acontecer a partir de então, o reflexo que haveria no Brasil e em outros países da América do Sul, que até então viviam sob o regime militar.

Por isso mesmo, nada mais justo que homenagearmos o Prof. Goffredo aqui, no plenário da Câmara dos Deputados, a Casa que representa o povo brasileiro.

O Prof. Goffredo participou de momentos memoráveis da história política do Brasil. Eu lembro-me, porque estava no pátio das Arcadas, de quando foi lida a Carta aos Brasileiros. Ouvi aquela leitura na certeza de que estava testemunhando um momento histórico.

Eu sabia que estava participando de um momento histórico. O que ele afirmava naquele momento era o que o povo brasileiro desejava.

E aquele foi realmente um momento histórico.

Quando era estudante, eu pude participar também de outros momentos importantes da vida política, uma vez que fui Presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto. Participei de todos os atos. É impossível participar da Faculdade de Direito sem participar da vida política estadual e nacional. Mas a Carta aos Brasileiros foi realmente uma ruptura muito grande, foi um chamamento à Nação brasileira.

E quando nós lemos a Carta hoje, passados tantos anos, Prof. Michel – V.Exa., que é professor emérito, bem sabe –, vemos que ela ainda é atual. Seus ensinamentos lembram-nos a todo instante que uma democracia não pode prescindir de liberdade, de Estado de Direito, de Câmara, de Senado, de Congresso e de imprensa livres.

É por isso que nesta manhã estamos aqui homenageando o Prof. Goffredo da Silva Telles, uma homenagem singela, simples, mas de grande simbolismo. Simples como ele foi, simples como os sábios podem ser.

O Prof. Goffredo deixou uma história muito bonita. Não há neste Brasil quem não se lembre de sua figura, que se impunha quando chegava. Quando o Prof. Goffredo morreu nós sentimos muito, pelo muito que ele foi importante. Sua ausência é sentida por todos nós até hoje. Releio vez ou outra suas lições, penso no significado delas para o Brasil, e acho que a Câmara dos Deputados não tinha outra alternativa senão homenagear esse grande brasileiro.

Gostaria de agradecer a todos os que ajudaram a realizar esta sessão, aos Deputados que aprovaram o meu pedido, ao Presidente Michel Temer, nosso grande Presidente, que com certeza teve no Prof. Goffredo também um grande professor.

E quero dizer que a lição do nosso Prof. Goffredo permanece e permanecerá para sempre entre nós. Ninguém que estudou na São Francisco passou por lá impunemente. Ninguém. Alguns saberão um pouco de Direito, outros um pouco de política, mas com certeza todos saberão um pouco de democracia.

Ao terminar esta simples homenagem, Presidente Michel Temer, Srs. Deputados, senhores convidados, eu quero lembrar um pouquinho daquilo que disse Goffredo. Quanto eu, jovem estudante, assistia a suas aulas, tinha a certeza de que o que ele dizia era profético e de que a realização da democracia que ele pregava era questão de tempo.

O que ele disse naquela época, em 1977, permanece ecoando até hoje:

“Quero deixar claro que sempre estarei ao lado daqueles que batalham pelo Estado de Direito. Eu gostaria de ver a volta de meu País à democracia. Estou com os estudantes. O que os estudantes querem é o respeito à Constituição; é o predomínio da lei, do Direito e da Justiça. O que eles querem é simplesmente a ordem, mas a ordem no Estado de Direito. Para eles, os subversivos são precisamente aqueles que violam a Constituição.”

Essas palavras foram ditas no passado, mas ainda ecoam no presente, e com certeza, nesta Casa, a democracia continuará a nortear nosso futuro.

Obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade."