Goffredo Telles Jr. era, por natureza, alguém que não se conformava com o estado das coisas. Menino, ainda, foi talhado para as lutas políticas. Desde 1932, quando participa ativamente da Revolução Constitucionalista, até a brava luta contra a ditadura militar, Goffredo nunca se afastou da ativa participação.
No dia 1º de julho de 32, Miguel Costa Júnior e eu, ambos alunos do Ginásio São Bento, publicamos o primeiro número do São Paulo Estudante, jornal de seis páginas, de formato grande, em que dizíamos (no artigo de fundo, de minha autoria) coisas como as seguintes: 'estamos vivendo a hora sem precedentes, em que soam pelos quatro cantos da Pátria os sinais de alarma. A Pátria está em perigo.'
Oito dias após a publicação do jornal, era deflagrada da Revolução Constitucionalista.
Eu também quis partir para a frente de combate, Mas a menoridade impediu minha inclusão em nossos batalhões voluntários. Requeri audiência especial ao general Euclides Figueiredo, comandante-em-chefe das Forças Revolucionárias. Impressionado, sem dúvida, com minha insistência – e após se certificar da autorização que me foi concedida por meu pai – o general designou-me para o cargo de secretário do Hospital de Sangue, na Frente Norte das operações de guerra.
Durante todo o curso, como ele mesmo conta, fez política intensa. Como solução à descrença nos partidos da época, surgiu aos estudantes o Integralismo. Sobre o movimento, Goffredo nos conta que ingressou aos 17 anos na Ação Integralista Brasileira (AIB), e a ela pertenceu até que a mão de ferro de Getúlio Vargas a fechasse, em 1938. Acerca da AIB, o Mestre confessa ter sempre pensado que suas ideias antitotalitárias fossem as ideias fundamentais do Integralismo.
Mais tarde, eu me conscientizei – desesperado e com a maior revolta – de que a AIB continha, também, uma corrente de pensamento contrária à nossa linha doutrinária fundamental. Isto justificou a pecha de fascistas e totalitários que nos foi irrogada – pecha que constituiu um injustíssimo handicap, com que tive de arcar desgraçadamente, em toda minha vida. Em verdade, o nosso integralismo, o integralismo dos universitários, o meu integralismo era radicalmente antitotalitário, antifascista.
Formado em Direito, elege-se Deputado Federal Constituinte em 1946, e Deputado Federal na legislatura 1946/1950. Desde então, não mais se afasta de todos os momentos tormentosos da vida polícia nacional. Em 1964, quando veio o golpe militar, o Mestre imaginou que seria o momento para que se mudasse o processo de representação política. Correndo o risco da empreitada, fez chegar suas ideias aos militares. Mas tudo não passou de um sonho. O regime endureceu, e os militares tinham tomado gosto pelo poder. A ditadura tinha vindo para ficar.
Lutador incansável do Estado de Direito, dos Direitos Humanos e das Liberdades Democráticas, na noite de 8 de agosto de 1977, em plena vigência do regime de ditadura militar, leu sua "Carta aos Brasileiros", no Pateo da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, diante de grande multidão de estudantes, de gente do povo, de altas personalidades e de jornalistas, em comemoração do Sesquicentenário da Fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil. Esse famoso documento se tornou marco decisivo no processo de abertura democrática no país.
O que queremos é ordem. Somos contrários a qualquer tipo de subversão. Mas a ordem que queremos é a ordem do Estado de Direito. A consciência jurídica do Brasil quer uma cousa só: o Estado de Direito, já.