Em 16 de maio de 1915, em uma grandiosa casa no aristocrático bairro paulistano dos Campos Elíseos, na esquina da rua Conselheiro Nébias com a Duque de Caxias, nascia o Professor Goffredo da Silva Telles Junior.
Essa casa, meu avô a construiu na última década do século passado. Foi obra de Ramos de Azevedo, o famoso arquiteto do Teatro Municipal, do Palácio da Justiça, da Escola Normal da praça da República.
Nessa casa vivi, com minha avó, meus pais e irmãos, durante toda a minha infância. Dela e do jardim, conservo lembranças muito claras.
Era filho de Goffredo Teixeira da Silva Telles, bacharel em Direito pelas Arcadas (Turma de 1910) e de Carolina Penteado da Silva Telles, "maravilhosa senhora, cuidada com primor, sempre dona de si mesma, soberana por natureza em seus domínios.
Goffredo pai "foi poeta acima de tudo. Poeta, não só em seus livros, mas, também, na sua maneira de levar a vida".
Pegureiro do ideal democrático, Goffredo Jr. aos 13 anos de idade já dava aulas de Lógica para as amigas de sua avó, a grande dama Olivia Guedes Penteado. Nessa época, conviveu com a intelectualidade artística, Tarsila do Amaral, Villa Lobos, Mario de Andrade.
Estudou no Colégio S. Bento, onde pôde trabalhar a inquietude de suas muitas perguntas à humanidade. Em fins de 1932, o Professor Goffredo termina o Ginásio. Para ingressar na Faculdade de Direito, fez exame vestibular, saltando o Colégio Universitário, como era permitido por lei.
Ali estava eu, na famosa Academia! As Arcadas, o Pateo, o Largo, tudo aquilo passou a ser meu, passou a ser o ambiente de meus dias. Eu tinha dezoito anos de idade. Havia agitação nas ruas, e havia um sonho em minha alma.
Quando entrei na minha Escola, com a vibração comum dos calouros, eu levava o sentimento de já ser um pouco responsável pela ordem jurídica no meu País.
Terminou o curso em fins de 1937. A missa de ação de graças foi rezada em 18 de janeiro de 1938, na igreja de São Francisco, pelo arcebispo metropolitano, dom Duarte Leopoldo e Silva. A cerimônia de formatura, com solene colação de grau, se realizou, à noite do mesmo dia, no Teatro Municipal.
Éramos cento e noventa e três bacharelandos. Apresentamo-nos com vestes talares: nossa turma foi a primeira a usar beca nos atos da formatura."
Casou-se em primeiras núpcias com Elza Xavier da Silva (Zita), em 24 de julho de 1939. Com ela teve seu primeiro filho, ou melhor, seu primeiro Goffredo. De fato, em 11 de setembro de 1940 nascia Goffredo da Silva Telles Neto. Dois anos depois, no dia 15 de outubro de 1942, morria o angelical Goffredo Neto.
A meningite o matou, impiedosamente.
Em fevereiro de 1944, Zita adoece, vindo a falecer no dia 17. Em 19 de abril de 1947, casou-se com Lygia Fagundes Telles, também formado pelas Arcadas (Turma de 1945). Cinco anos depois, no dia 16 de dezembro de 1952, nascia o filho do casal, seu segundo Goffredo: o cineasta Goffredo Telles Neto, falecido em 29 de março de 2006.
Goffredo Neto não quis, nem de longe, seguir minhas trilhas universitárias. É cineasta profissional. Anda muito longe de mim. Nunca sei, ao certo, onde ele se encontra. Suas filmagens o levam a viagens constantes. Nosso abraço é um encontro de corações em festa.
Goffredo Neto foi pai de duas meninas, queridas netas do Mestre Goffredo: Lucia Carolina e Margarida. Depois de alguns anos, Goffredo e Lygia se separam.
Em setembro de 1967, casou-se com Maria Eugenia Raposo da Silva Telles, advogada, formada pela Faculdade pelas Arcadas (Turma de 1964), sua inseparável companheira, colaboradora de todas as horas.
Eu admiro sua inteligência, sua cultura. Tudo que vem dela me toca, me comove. Encantado e perene amor, este meu amor por ela!
Deste amor infinito nasceu Olivia Raposo da Silva Telles, em 3 de fevereiro de 1972, também advogada, formada pela Faculdade pelas Arcadas (Turma de 1993).
Ela é muito querida. Penso nela continuamente. Por que terá optado, tão rápido, pelo efetivo exercício da profissão? Vejo que há semelhanças entre ela e eu. Ela tem a paixão da advocacia, como eu tinha, em meu pequeno escritório, ao pé do Fórum.
E no início da fria noite de 27 de junho de 2009, Goffredo da Silva Telles Junior, professor, amante do Direito, das Arcadas e dos estudantes, lavrador da "disciplina da convivência humana", faleceu.
Hoje, cedo, abri a janela /
E abracei a madrugada... /
Pensei nas coisas já feitas, /
E nas que estão por fazer. /
Quantas madrugadas, quantas, /
Já se foram para sempre! /
A mim mesmo perguntei: /
Quantas madrugadas, quantas, /
Ainda terei, como a de hoje? /
Sinto que a vida se esvai, /
Nas horas destas manhãs. /
Longa a senda percorrida; /
Bem curta, porém, a vida.